Crônica do Dia – Germinação – Por Whisner Fraga
Para Helena, nossa filha.

Uma certa perplexidade confinada. Um alívio, quase. Como se um véu de audácia e, talvez, até de curiosidade espreitasse uma melancolia
O que você está fazendo?, ela barganha.
Vem ver o que estou fazendo.
Apanho a mão de sete anos e levo a menina para o pomar. Há uma nova muda de murici se aproveitando da sombra, há uma manta de folhas que se espreguiça sob nossos pés, há uma brisa inestancável se apoderando dos galhos.
A menina vê um broto entrincheirado pelo verde que reconhece o desmazelo da vida. Ela se agacha e acaricia a folha moribunda, como se o carinho tivesse o poder de dominar a repugnância do tempo.
As oliveiras deserdam a estranha revolta dos frutos. Não querem florescer, não querem nenhuma obrigação com os ciclos que definem o atrevimento da coerência e, quem sabe, da lógica.
A menina revira a áspera ausência da terra e se tinge com o magma da comunhão.
A paciência faísca no fine caule que quase se encolhe na violência do mundo.
A vingança encoberta por uma camurça de amenidades, como a tarde que imagina tempestades.
Primeiro foi o rasgo, depois o calcário, o adubo, depois finalmente a planta se encaixa, se espalha furtivamente pela rendição.
A menina me abraça com a fúria da incompreensão.
O que você está fazendo?
Estamos juntos.