Crônica do Dia – O menino que ri
O menino tem mil amigos e nenhum se importa e ele se cala.

A menina ri ao descobrir que ele é volúvel.
A volubilidade imprevista do tempo.
O que a menina quer? Nada que já não seja dela. E isso dói.
A menina se dedica a formulários , tutoriais e planilhas, mas não sabe o que preencher.
Depois a menina busca a si mesma e descobre que isso é bom.
O menino sabe que viver consigo é esse duelo. E às vezes morre, mas no dia seguinte o despertador lhe mostra que é melhor que se levante.
Vai até a cabeceira e fisga o ansiolítico. O mundo lhe cobra o terno e a pontualidade.
Sem o terno e sem a pontualidade, como haveria de comer?
A menina também é volúvel. Há uma ironia nessa semelhança e ela também ri disso.
A menina tateia evidências e quer o mapa das coisas e se revolta quando o mapa lhe entrega um rumo sem certezas.
A menina prende os cabelos, enlaça os olhos do pai e há ali segurança e brutalidade.
O menino tem mil amigos e nenhum se importa e ele se cala.
O menino se cala porque o silêncio é uma vastidão.