
O menino já faz ponto no calçadão da avenida quinze.
“Vai graxa aí, moço?”
Vai.
Eu me acomodo, alinho o chapéu, fisgo o cigarro e dano a encarar uns mosquitos que comemoram um lixo inesperado.
Qualquer coisa sépia bagunça o céu.
Dona Terezinha desce perseguindo sombras:
Oi, fio, tarde!
Tarde, Dona Terezinha.
O menino empunha um pano que faz papel de flanela. Segura as pontas, uma em cada mão e estica o trapo até onde pode.
Unta minhas botas e espera.
O menino não conversa, mas boceja e maldiz o paradeiro.
O menino batuca o pano e extrai um samba para o único cliente que ainda se importa com sapatos lustrosos.
É o Adoniran?
É.
É triste.
É.
Seu Divino atravessa a rua apressado:
Eita, e eu sem tempo de lustrar os meus.
Tempo é escolha, Seu Divino. Tarde!
Tarde.
Vai com Deus.
Comentários sobre o livro “Os Touros de Basã”, de Marco Aurélio de Souza
Whisner Fraga comenta o livro “Os touros de Basã” e lê um trecho de um conto da obra.