Crônica do Dia – Testemunha – Por Whisner Fraga

Ele me perguntou o que eu tinha ouvido.
Eu tive medo quando ele me perguntou o que tinha ouvido, porque o jeito que falou era grave e me pareceu que ele queria que eu respondesse: “nada”.
Mas eu tinha ouvido algo e sabia o que responder.
Eu estava com medo, porque as coisas podiam ser mal interpretadas e se essa nova interpretação dos fatos chegasse ao conhecimento de meus pais, isso não seria bom para mim.
O menino de pé ao meu lado tremia em um medo muito maior do que o meu.
Eu devia a verdade a esse menino.
Carvãozinho.
O diretor pediu que eu repetisse.
Carvãozinho.
E quando ele me perguntou quem chamou o menino de carvãozinho, ponderei que racismo era a coisa mais errada que eu já havia presenciado.
Então entreguei um nome. O certo. O de quem gritou carvãozinho primeiro.
O diretor suspirou e eu sabia que tinha suspirado porque estava com uma decisão difícil para tomar. Não devia ser difícil, mas era.
Eu tinha certeza de que era mesmo o Jonas? Porque o Jonas não era disso.
O Jonas até era disso, mas era também de uma família tradicional. Era o termo que todos usavam: tradicional. E eu não tinha ideia ainda do que era isso.
O Jonas mereceu o chute que levou daquele menino acuado ali na sala, ao meu lado.
O diretor mandou sairmos.
E não se falou mais nisso.