Crônica do Dia – LINDAS NORMALISTAS – Por Malude Maciel

As calçadas ficavam tomadas pelas cores branca e azul-marinho da nossa farda do Colégio Sagrado Coração, o colégio das freiras. Era um lindo desfile, pois moças bonitas seguiam a pé naquele percurso diário como se estivessem numa passarela e os rapazes não se faziam de rogados, ficavam de prontidão apreciando, apesar de que havia a proibição de conversar fardadas, salientando que só o sexo feminino fazia parte do alunado. Mesmo assim, um aceno e um sorriso não quebravam a regra. Funcionários, do BB observavam de longe e outro bem especial, na janelinha do Banco do Povo esperava nossa passagem. Sucesso garantido.
Interessante ver que dificilmente algum pai ia levar seus filhos aos educandários e automóveis também eram raros, contrastando com os dias atuais quando todos preferem os transportes pela falta de segurança e também comodismo.
Essa interação com a cidade caminhando cotidianamente só podia ser benéfica aos adolescentes. Lembro uma canção de Luiz Gonzaga que salienta o bom costume das andanças e quantas coisas podem ser apreciadas pelos caminhos percorridos a pé.
Outra música que também se identifica com nosso assunto é a famosa “Normalista” interpretada pelo cantor das multidões, Nelson Gonçalves. A letra da melodia dizia assim: “vestida de azul e branco, trazendo um sorriso franco no rostinho encantador. Minha linda normalista rapidamente conquista meu coração sem amor…”” Mas, a normalista linda não pode casar ainda, só depois que se formar, eu estou apaixonado, o pai da moça é zangado e o remédio é esperar”. Muito cantada naquela época.
A farda de gala do nosso Colégio era bem caprichada: a blusa não mais de mangas curtas e sim compridas, de langerie com punhos e golas bordados e botões de pérolas, a saia plinssada, meias compridas e sapatos pretos num modelo com botãozinho na ataca. Além disso, acompanhava boina azul-marinho e luvas brancas. A coisa mais linda. Cada estudante caprichava no visual e quando formava o conjunto, era pra ninguém botar defeito.
Saíamos às ruas nos desfiles do Dia 7 de setembro e mesmo sem intenção havia competição com o Colégio Diocesano que tinha a farda marrom, com as mesmas características. As irmãs não gostavam desse embate, pois a finalidade do desfile era o patriotismo. Mas, ninguém pode conter alunos exaltados e assim nossa participação foi suspensa, restando apenas o acompanhamento às procissões, quando o Colégio marcava presença. Embora usando mantilhas nas cabeças, ao invés das boinas, o grupo brilhava naturalmente pela disciplina e beleza.
Neste 2020 o Colégio Sagrado Coração completa cem anos de existência em Caruaru. É uma história marcante na cidade, pois significa um século na área da Educação, no Conhecimento, na Formação e Disciplina de muitas gerações.
Estudei ali desde o admissão (teste c/madre Regina e curso c/Profa.Neidinha Jordão) até a conclusão do Pedagógico em 1968. Minha turma ainda se encontra de quando em vez e tem um Grupo no WhatsZapp conversando sempre. Conservamos boas amizades. Para não cometer deslizes não citarei nomes de mestres que nos são caros.
Tenho muito orgulho do meu Colégio e nutro um amor fraternal por todos aqueles que nos educaram, conduzindo-nos no caminho do Bem.
Parabéns, Colégio querido!
Maria de Lourdes Sousa Maciel se tornou “Malude” porque seus irmãos não sabiam dizer seu nome completo, como sua mãe insistia. Se tornou poetisa, escritora (Reminiscências de Malude em Prosa e Versos foi seu segundo livro publicado. O primeiro livro publicado intitula-se : No Meu Caminho.) é membro da Academia Caruaruense de Cultura, Ciências e Letras – ACACCIL. Ocupa a Cadeira 15, que tem como patrono a Profa. Sinhazinha.
Excelente!